sábado, 1 de outubro de 2016

O milésimo Tsuru



Olá Vivian!!! Tudo bem?
Hoje eu escreverei para você uma pequena história que escrevi ontem de madrugada, no meu trabalho. Pode ser um pouco boba, mas espero que goste, pois é uma espécie de presente meu, de aniversário para você.

O milésimo Tsuru

Aquele era o grande dia... Não era eu a atração da festa, tampouco teria eu alguma participação expressiva que viesse a ser razão para tal nervosismo, mas o fato é que a novidade que pairava sobre tudo aquilo me deixava inquieto.
Meu melhor amigo da época fora a causa por eu estar ali naquele momento tão solene e único.
Era como uma viagem tantas vezes planejada, uma vontade tão profundamente no peito guardada... agora eu estava ali, era só aguardar, ou fugir o mais depressa possível...
Terrível é a lembrança da timidez!
Lembro de ter sorrido para ela, ou não? Eu quis fazê-lo, mas não o fiz?
Por que não falei algo mais que "parabéns!" ?
Eu poderia dizer tantas coisas: "Poxa, você está linda! Parabéns! Que Deus os abençoe muito, sempre!" 
Mas o que se diz em um momento como esse? Ainda mais sendo essa a primeira vez que eu olhava aqueles olhos - como eu nunca esqueci aqueles olhos! - ou era o olhar? Não sei dizer...
Eu muito pouco lembro daquele início de noite: Eu não lembro o que vesti; se eu comi ou bebi, o que eu comi ou bebi; o que conversamos, meu amigo e eu; enfim, eu lembro sim, dos olhos, do olhar... e do pequeno sorriso dela.
Anos depois eu aprendi que a memória pode nos pregar peças, pois quanto mais longínqua é a lembrança, maior pode ser a invenção por parte de nosso cérebro, na tentativa de reconstruir uma recordação que nos agrada - o mesmo vale para nos ajudar a esquecer nossas memórias desagradáveis.
Muita coisa eu esqueci daquele dia, mas, sim, eu posso afirmar: aquela festa aconteceu, eu estive lá!
Eu não me lembro como nem quando conheci a lenda japonesa dos mil Tsurus, recordo apenas que mais tarde, naquela noite, comecei a pensar que, de algum modo, muito daquilo poderia ser real, de novo... Por vezes eu me pego perguntando apenas, quantos daqueles origamis eu já fiz, e quantos ainda faltam até eu ver, pessoalmente, aqueles olhos mais uma vez?
M.W.B.
30/06/2016
02:00 am


terça-feira, 30 de agosto de 2016

Farol




Tua luz é tua alma;
Teus degraus são muitos
e estreita é tua escada;
Mesmo longe tu me acalmas.

Teu sinal é meu guia;
Alta é tua torre
e única a tua chave;
Conheci-te em cartas que eu lia.

És a luz de Alexandria,
És oriente e ocidente.
Sê tu, o calor da noite fria!

Mas foges como a luz insone,
Mesmo quando dormes em tuas pedras.
Diz tu, farol, qual teu verdadeiro nome?
MWB


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Quanto tempo dura um momento? [Ele]



"Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo!"

    O abraço mais longo que jamais havia compartilhado com alguém... Aquele seria o calor que eu guardaria para sempre dentro do peito, e que força alguma jamais o arrancaria da minha memória.
    O tempo parece ter parado... Naquele momento eu não consegui pensar em nada. O meu ar ainda está repleto dela... Penso que sentir seu cheiro, em meio ao seu abraço, fora como tatuá-lo em minha mente...
    Lembro que conversamos... rimos, o dia todo. Era um lugar agradável aquele... Já estive lá dezenas de vezes desde sua partida, sozinho, na esperança de encontrar mais lembranças dela.
    Eu sempre imaginei... não seria nada fácil a despedida... Ainda conversamos, sim, mas não fora a mesma coisa desde então. Provavelmente não haja culpados por isso, ou culpados são todos aqueles que nunca compartilharam de tais momentos de felicidade!
    Arrumamos todas as nossas coisas, já era fim de tarde; assistimos ao por do sol juntos, e juntos fomos embora.
    Era melancólico demais vê-la agora, ali, comigo. Ainda assim eu era a personificação da alegria. O dia tinha sido incrível. Fora maravilhoso para ser sincero! Mas agora o fim se aproximava...
    Se a felicidade é, como diz o filósofo, "um instante que gostaríamos de eternizar porque adoraríamos que ele não acabasse", então, enfim, eu estava feliz! Eu estava ali, feliz, com ela!
    Chegamos à sua casa. Era chegada a hora terrível, o momento de dizer adeus...
    Nós nos abraçamos... devagar... tão forte, tão intensamente que, quem nos visse, ao longe, naquele início de noite, duvidaria que ali haviam duas pessoas...
    Sempre brincávamos sobre a promessa do abraço - duraria uns 10 minutos... -, há tempos eu falava isso a ela... mas aquele abraço, sem dúvida, era mais que o simples cumprimento de uma palavra; era a expressão do que eu estava sentindo naquele instante: um momento que eu gostaria de eternizar...
    Um arfar de pulmões atrás do outro... meu coração batia cada vez mais rápido... o nosso, talvez... nossas respirações se confundiam, e se confundiam com profundos suspiros...
    Eu sentia o cheiro dos seus cabelos, o cheiro dela... um instante, outro, nossas bochechas se aproximaram, eu senti sua respiração no meu ouvido, nossos óculos se encontraram, nossas bochechas se tocaram... não houve tempo de olharmos um para o outro... num segundo, estávamos de rosto colado, no outro eu encostava meus lábios nos dela...
    Ela permanecera me abraçando, eu estava agora acariciando seu rosto... com as mãos entre seus rosto e sua nuca eu a beijava ela  me beijava.....e foi um beijo suave, e doce, que se tornou intenso, e inadiável... e eu não sei quanto tempo ficamos ali, juntos; eu não sei como eu fui embora aquela noite... sei apenas que lembro todos os dias, das horas que passei ao lado dela, do beijo que não teve fim até hoje... Ainda sinto sua boca na minha, o arrepio, o calor, tudo aquilo que ela me entregou naquele momento, no instante eterno daquele beijo.

MWB

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Quanto tempo dura um momento? [Ela]


Seu carro parou, estávamos na frente da minha casa, lentamente você tirou o cinto de segurança e abriu a porta, enquanto você descia do carro, fechei meus olhos e em fração de segundos vários flashs do dia passaram em minha mente.
Nós dois nos encontrando a tarde.
Nós dois sentados no alto daquele morro olhando o rio, conversando sobre vários assuntos, nosso riso e nosso sorriso.
Chupando sorvete...
Quando voltei a abrir meus olhos você já estava na calçada, tirei o cinto de segurança e desci também.
Você se encostou  no carro e eu cheguei perto, na sua frente.
O clima era triste, chegou a hora da despedida, sabíamos que esse era nosso primeiro e último encontro, já tivemos sorte em conseguir ao menos isso.
Você olhou pra mim e disse:
- Pois é, chegou o momento de dizer tchau, de eu ir embora mas queria pedir uma última coisa.
- Diga.
- Quero um abraço.          
Meu sorriso se abriu e eu fui em sua direção te abraçar.
Te abracei pelo pescoço e você me abraçou pela cintura, encostei meu rosto no seu ombro.
Nem sei quanto tempo ficamos assim. Perdemos a noção do tempo.
Você me apertou ainda mais no seu abraço, senti sua respiração acelerar e naquele momento não existia mais nada nem ninguém no mundo, apenas você e eu.
Fui me afastando lentamente, meu óculos esbarrou no seu óculos, a pele do meu rosto tocou a pele do seu rosto, fiquei de frente pra você, olhei nos seus olhos, me aproximei e te beijei.
No começo foi um beijo tímido, lento e carinhoso eu sentia seu coração batendo forte e acelerado, aos poucos o beijo foi ganhando mais intensidade, seus braços me apertaram contra seu corpo, sua mão subiu pelas minhas costas, passeou em minha nuca e seus dedos entrelaçaram em meus cabelos.
Meus braços também te abraçavam mais apertado, nossa respiração estava mais acelerada e uma certa urgência se fez presente. Mas sem explicação alguma você me afastou de repente e gritou NÃO......
Nesse momento sentei assustada em minha cama, abri os olhos e não sabia onde estava nem o que estava acontecendo, tudo estava escuro exceto pela luz fraca do meu abajur, olhei em volta e você não estava lá, seu carro não estava lá e não estávamos nos beijando na rua.
Eu estava sozinha.....
Foi um Sonho.....
Sozinha....
Sonho......
Deitei, fechei meus olhos e uma lágrima escorreu.
Sonho.....
Sozinha......
Sonho......





quinta-feira, 7 de julho de 2016

Tanabata




O FESTIVAL DAS ESTRELAS


Sétimo dia do sétimo mês.
Vamos fazer nossos pedidos!!!!!!!

Há muito tempo, de acordo com uma antiga lenda, morava próximo da Via-Láctea uma linda princesa chamada Orihime (織姫) a "Princesa Tecelã".
Certo dia Tentei (天帝) o "Senhor Celestial", pai da moça, apresentou-lhe um jovem e belo rapaz, Kengyu (牽牛) o "Pastor do Gado" (também nomeado Hikoboshi), acreditando que este fosse o par ideal para ela.
Os dois se apaixonaram fulminantemente. A partir de então, a vida de ambos girava apenas em torno do belo romance, deixando de lado suas tarefas e obrigações diárias.
Indignado com a falta de responsabilidade do jovem casal, o pai de Orihime decidiu separar os dois, obrigando-os a morar em lados opostos da Via-Láctea.
A separação trouxe muito sofrimento e tristeza para Orihime. Sentindo o pesar de sua filha, seu pai resolveu permitir que o jovem casal se encontrasse, porém somente uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar, desde que cumprissem sua ordem de atender todos os pedidos vindos da Terra nesta data.
Na mitologia japonesa, este casal é representada por estrelas situadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano: Vega (Orihime) e Altair (Kengyu).













Por onde se vai aqui no Japão nessa época do ano shopping, parques a gente encontra essas mesas com os tanzaku que são esses pequenos pedaços de papéis para escrever nosso pedido e depois pendurado no bambu.




Esse foi no shopping aqui perto de casa, vimos os papeis coloridos e nao resistimos e fomos fazer nossos pedidos tambem, pedi uma coisa tao tola acho que se fosse hoje teria algo mais importante para pedir.


Kyara como sempre participando de tudo.




Assim como a Cultura Maia os costumes de Okinawa consideram a existência de uma relação entre a Lua e o Sol e observam a diferença de um dia entre estes dois calendários, que no Japão corresponde ao Tanabata.

A Lua gira em torno da Terra:
  • A cada ano 13 vezes em ciclos de 28 dias, completando um ciclo anual de 364 dias (dividido por 7 = 52 semanas)
  • A Terra gira em torno do Sol num ciclo que se completa em aproximadamente 365 dias
  • A diferença entre estes ciclos do Sol (365 dias) e da Lua (364 dias) corresponde a 1 dia "(neutro)". Assim, o ano teria 52 semanas mais 1 dia neutro, o Tanabata, dia 07 do sétimo mês do calendário lunar.
      
Kyara e Vanna deixando seus pedidos pendurados no bambu.




Há uma canção tradicional de Tanabata que é ensinada praticamente a todas as crianças japonesas:
Sasa no ha sara-sara     (笹の葉 さらさら)
                                      Nokiba ni yureru         (軒端にゆれる  )
                                      Ohoshi-sama kira-kira    (お星様 キラキラ)
                                      Kin Gin sunago           (金銀砂ご    )

Tradução
   As folhas do bambu, murmuram, murmuram,
                                       balançam as pontas.
                                       As estrelas brilham, brilham,
                                       grãos de areia de ouro e prata.


Na natureza nada se perde, tudo se transforma e na internet muito se copia rsss. A postagem de hoje foi praticamente toda copiada da https://pt.wikipedia.org/wiki/Tanabata


sábado, 4 de junho de 2016

Lágrimas......



As lágrimas não cessavam.
E a cada milésimo de segundo seu desespero aumentava.
Ela correu, entrou no banheiro e bateu a porta com força.
Encostou suas costas na porta e foi deixando seu corpo escorregar até o chão.
Ficou sentada, abraçando seus joelhos numa posição fetal.
Não conseguia firmar seus pensamento em nada.
Tudo em sua mente era uma bagunça, um aglomerado, um turbilhão.
Seu estômago se contorcia de náuseas.
Ela nem se deu conta quanto tempo passou ali sentada no chão.
Poderia ter sido segundos, minutos ou horas.
Tentou se levantar e suas pernas não a obedeciam.
Se apoiando na pia e com muita dificuldade ficou em pé.
Quando olhou no espelho não se reconheceu.
"Quem era aquela menina me olhando???"
A maquiagem estava borrada.
Os cabelos emaranhados.
E os olhos mais tristes que ela já vira em toda sua vida.
O desespero dessa vez veio com força.
Como se uma enorme mão agarrasse seu coração e o apertasse até que ele se desfizesse e escorresse por entre os dedos.
As lágrimas desciam sem dó.
A vontade de gritar subiu a garganta, mas novamente reprimiu.
Ela entrou na banheira, de roupa e sapato.
Sentou e deixou que a água fria caísse em sua cabeça.
Novamente perdeu a noção do tempo.
Seus olhos fixos em apenas um objeto.
Seu coração acelerado e naquele instante teve certeza.
Levantou-se e pegou o objeto.
Sentou novamente dentro da banheira.
Inspirou profundamente.
Com força e de uma só vez, passou a lâmina  em seu pulso, cortando ao meio a linda tatuagem que tinha ali e que tanto significado tinha pra ela.
Ficou observando o vermelho do seu sangue manchando suas roupas e se misturando com a água fria que ia para o ralo.
Aos poucos sua respiração foi ficando mais calma.
Aquele desespero avassalador foi diminuindo.
Seus olhos não desviaram nem por um segundo do seu pulso cortado.
Por alguns segundos sentiu a tranquilidade que a muito não sentia.
Ela fechou os olhos e em seus lábios brotou um último sorriso.
Nada mais doia.

sábado, 21 de maio de 2016

Beco das Lembranças - [Japão]

                             
                              Beco das lembranças 
                                  思い出横丁
                             おもいでよこちょう
                                Omoi de yokochou


Konnichiwa 
こんにちは

Minna san ogenki desuka?
みんな さん お元気 ですか?

Vim escrever sobre uma coisinha que faz brilhar os olhos da criançada (sim, os meus também).
Sai do serviço, busquei minha filha e fui no shopping comprar umas coisinhas, cheguei e dei de cara com isso........

É uma feirinha de doces e brinquedinhos antigos e baratinhos.

Os olhos da minha filha triplicaram de tamanho e um sonoro "ahhhhhh" veio junto.....
"Mãe..... Posso comprar um, dois, alguns docinhos???????"
Como vou dizer "Não" se meus olhos avistaram de longe isso....... 


                                               (Algodão doce)

Passo muito bem sem chocolates, balinhas e chicletes mas algodão doce já é sacanagem comigo.

Pois é né, apesar de serem docinhos bem baratinhos, deixei quase 2 horas do meu serviço ali com o tiozinho da barraquinha. 
Com isso......
Minha filha feliz....
Tiozinho da barraca feliz.....
Eu, mais ou menos feliz......
Ok.......Tudo bem né......

Bom, nessas barraquinhas tem balas, chocolates, goma, chicletes, algodão doce, brinquedinhos, sucos, tem uns treco que não sei o nome não rsssss.


Ahhhhhh e para quem já assistiu aquele lindo filme do studio ghibli.... O CEMITERIO DOS VAGALUMES  (hotaru no haka-  火垂るの墓).
com certeza deve se lembrar da latinha de balas que a Setsuko carrega né. Essa é a marca original e fizeram essa embalagem em homenagem ao filme .... Fofo demais.( vou me arrepender amargamente por não ter comprado).




Não tem jeito, essa barraquinha encanta a todos, crianças, adultos e até os velhinhos. Foi difícil conseguir tirar as fotos, a barraca nunca ficava vazia.

O tiozinho que estava na barraca era muito simpático e até arriscou um OBURIGADO rsssss.
Aí gente como é fácil me agradar rsssss.
Eu ia tirar foto dos docinhos que minha filha comprou quando eu chegasse em casa, mas a sacolinha chegou cheia.....cheia só de embalagens vazias porque os doces já estavam na barriga dela.




sexta-feira, 13 de maio de 2016

Ele



Eu tinha 18 anos e minha vida até agora tinha sido um saco.
 Eu tinha alguns colegas que se faziam de amigos quando era conveniente a eles. Quando eu tinha dinheiro eles estavam por perto, quando eu não tinha dinheiro eu estava sozinho. 
Tive um melhor amigo, amigo esse que nunca lembrei de dizer diretamente a ele o quanto ele era importante na minha vida. Minha família era um caos, muitas brigas. Eu não tinha um serviço fixo, ajudava meu pai em limpeza de terrenos, carpinava, passava veneno, essas coisas que no fundo me davam vergonha. Uma certa tarde eu estava andando na rua onde eu morava e vi uma linda menina, ela estava de saia laranja, blusinha branca, keds e óculos de sol, naquele instante meu coração acelerou, nunca tinha a visto por ali, quem poderia ser essa menina? Olhei para ela e ela retribuiu o olhar.
Algum tempo se passou e eis que vejo novamente na rua onde eu morava a mesma menina, mas agora eu sabia o que ela estava fazendo ali, ela era amiga da namorada do meu melhor amigo, não poderia ter coincidência melhor. Olhei novamente para ela e ela novamente retribuiu o olhar. 
Na primeira oportunidade fui perguntar sobre essa menina para a namorada do meu amigo e ela contou que a menina havia perguntado sobre mim também. 
Pedi o telefone da menina e resolvi ligar.
Conversamos por vários minutos e era ficha atrás de ficha, já que eu ligava do orelhão do bar da esquina pois não tinha telefone na minha casa.
Criei coragem e chamei-a pra sair e para a minha alegria ela aceitou. 
A namorada do meu amigo me fez inúmeras recomendações dizendo que essa menina era diferente, que ela era especial, que não era uma menina qualquer como as meninas que eu era acostumado a sair. Cada coisa que a namorada do meu amigo dizia sobre essa menina eu me encantava mais e mais por ela. Eu já estava cansado de sempre me envolver com o mesmo tipo de garota e realmente queria alguém especial, acho que era essa menina.
Como eu não tinha emprego fixo eu também não tinha dinheiro e quando digo que os meus amigos só me procuravam quando eu tinha dinheiro era porque eu fazia alguns "bicos" ilegais. Eu vendia drogas.
Já me doía o coração em estar me aproximando de uma menina tão bacana mas não ter nada de bom a oferecer a ela.
O dia do primeiro encontro chegou. Saímos em dois casais, foi tudo agradável, a menina era linda e estava comigo, eu nem acreditava, ela era tudo aquilo que a namorada do meu amigo disse e um pouco mais. Logo na primeira conversa que tivemos sozinhos ela já me fez sentir como se nos conhecêssemos há muitos anos. Contei coisas da minha vida, que os outros sabiam, mas que eu não admitia. O triste foi levá-la para casa. 
Após esse encontro eu ligava todos os dias para ela. Um laço foi se formando e a vontade de vê-la só aumentava. Eu queria chamá-la para sair, mas eu só tinha 1 real no bolso, isso me decepcionava muito. Criei coragem e liguei para ela no domingo à tarde e a convidei para dar uma volta, ela aceitou. Nos encontramos na praça da igreja e ficamos ali no banco conversando. Nossa, como a companhia dela me fazia bem, mas não sei se poderia dizer o mesmo dela, às vezes ela parecia estar tão longe. 
Continuamos a conversar mas já não conseguia encontrá-la sempre, algumas vezes fui até a casa dela para vê-la. Até que um dia descobri que a polícia estava atrás de mim, por causa do meu "bico". 
Decidi sair de cena por uns dias, não liguei para me despedir, não teria coragem de contar a ela  o motivo, eu já havia contado que usava drogas mas não tinha contado a ela que eu as vendia também. 
Fiquei fora por um mês. E ela seguiu a vida dela. E eu perdi o chão, pois sonhava todos os dias com o dia que eu voltaria para a cidade e a encontraria. 
Liguei para ela e disse que queria conversar, ela aceitou, conversamos e eu percebi o quanto gostava dela, nunca havia sentido por ninguém o que estava sentindo por ela.
Sempre fui o tipo pegador, mulherengo que pegava as meninas pra levar pra cama e depois ignorava, e agora eu me via ali, completamente encantado por uma menina que não queria mais que minha amizade. 
As brigas em casa, com minha mãe e meu pai estavam cada vez piores, eu já estava no meu limite, desde que saí de cena para fugir da polícia, nada deu certo na minha vida. Eu que já bebia bastante passei a beber mais, bem mais.
Por mais que eu tentasse me convencer a não ir atrás dela, minha vontade de ver aquela menina era maior que qualquer orgulho que eu tivesse, fui até a namorada do meu amigo e disse que se ela levasse a amiga dela no churrasco domingo a tarde eu daria a ela uma garrafa de bebida. A namorada do meu amigo topou na hora e não sei como ela conseguiu convencer a menina a ir no churrasco, mas o importante é que ela foi.
Segurar a mão da menina mais uma vez, abraçá-la e beijá-la era a coisa que eu mais ansiava em fazer. Ela ficou pouco tempo no churrasco, mas eu já estava feliz, então fui beber parar comemorar minha felicidade. Não faço ideia do quanto bebi, só sei que no final da noite eu já não tinha controle sobre os meus atos, já não dizia nada com nada, já arrumava briga com todos ali presentes e arrumei briga com a pessoa errada. Ele era meu amigo também e agora entendo que ele só queria alertar que eu havia passado dos limites, mas na hora eu não queria saber de nada, brigamos feio, ele me socou, rasgou minha camisa nova, eu fiquei irado, magoado, confuso, chateado. Fui até minha casa, que era perto, peguei a arma que eu havia comprado quando sai da cidade, e voltei ao churrasco. Não sei nem o porquê de ter ido pra casa buscar aquela arma. Quando voltei ao churrasco, alguns já haviam ido embora mas ele ainda estava ali, então apontei a arma para minha cabeça, fechei os olhos e respirei fundo, quando fui apertar o gatilho senti uma mão segurando minha mão, depois senti várias pessoas a minha volta, tomaram a arma da minha mão e me levaram para casa.
No outro dia eu estava com muita vergonha de tudo o que havia acontecido e de alguma forma eu sabia que a menina também já sabia. Não quis ligar pra ela, mas na quarta-feira à noite ela foi lá em casa, não tocou no assunto, sei que ela queria que eu contasse, ela queria ouvir a minha versão da história, e eu me fiz de desentendido e não falei. Ela então disse que se não havia confiança da minha parte ela não queria me ver mais. Aquilo foi uma apunhalada em meu coração, mas como tirar a razão dela? Ela era linda, inteligente, brilhante e tinha um futuro maravilhoso pela frente e eu o que poderia oferecer a ela?
Eu bebia muito a ponto de tossir sangue, eu usava drogas, eu vendia drogas, eu não tinha estudo, eu não tinha emprego, eu não era nada, não era ninguém. Fechei os olhos e deixei que ela se levantasse e fosse embora e com ela levou todo meu coração, sem ela como alicerce eu que já me sentia perdido me perdi ainda mais.
Fiquei revoltado com tudo e com todos.
As brigas na minha casa eram diárias e sempre eram por eu não estar trabalhando. Não tiro a razão deles, pois eles queriam meu bem, mas na época eu não entendia.
Ahhhhh se naquela época eu entendesse, teria mudado tanta coisa.
Apesar de todas as coisas erradas que eu fazia, eu ia na igreja todos os domingos na missa da noite e o amigo que briguei no churrasco ia todos os domingos de manhã. Eu já havia perdido a menina, não queria ficar brigado com meu amigo, resolvi ir na missa da manhã para conversar com ele e voltarmos a amizade, justamente nesse domingo ele não foi. 
Quando voltei para casa, na hora do almoço, mais brigas em casa. Me tranquei no quarto e ali perdi a noção do tempo. Dormi a tarde toda e quando acordei senti a maior angústia que eu poderia sentir. Eu já estava no fundo do poço, nada na minha vida dava certo, foi a menina que me deixou, a briga com meu amigo, as brigas em casa. Peguei a foto que eu tinha com a menina, acariciei, dei um beijo e a guardei. E por um momento de fraqueza peguei a arma, a mesma que vim buscar em casa no dia do churrasco, segurei a arma firme, olhei-a, fui pensando na minha vida, vi que nada valia mais a pena. Coloquei o cano da arma na minha cabeça, fechei os olhos e apertei o gatilho.
Dessa vez não teve ninguém para me impedir......









quinta-feira, 5 de maio de 2016

KOINOBORI



Olá!!!!!
Hoje meu post será sobre um dia de comemoração aqui no Japão que se chama KOINOBORI (鯉幟) que é o costume japonês de hastear birutas em forma de carpa para comemorar o DIA DAS CRIANÇAS.
鯉-carpa
幟-subida



Aqui no Japão, meninos e meninas são homenageados em dias separados, meninos no dia 05 de maio e meninas no dia 03 de março.
Após a guerra o dia das crianças passou a ser comemorado, juntamente, com o dia dos meninos.

O KOINOBORI é hasteado do lado de fora da casa acima da linha do telhado para que todas as carpas fiquem visíveis, geralmente no final de abril até o dia 5 de maio.

O por quê de serem carpas?
 Simples, a carpa é um peixe que simboliza força, bravura, persistência e sucesso, que é o que um pai deseja a seu filho. Quando o KOINOBORI é visto tremular no céu tem-se a impressão de ver a carpa nadando. 

Diz a lenda chinesa que a carpa devia subir a fonte do rio que corta a China, o Huang Ho, na época da desova. Para isso, tinha que nadar contra a correnteza e saltar cascatas até a montanha Jishinhan. A carpa que alcançasse o topo tornava-se um dragão. Por causa dessa lenda que as carpas simbolizam força, bravura e persistência. 

As birutas são hasteadas simbolizando a família e cada cor simboliza uma pessoa, Koi preto representa o pai, koi vermelho representa a mãe, seguido de um koi azul, verde e depois um koi violeta, representando os filhos de cada família.
Antigamente, no dia dos meninos, os samurais costumavam exibir suas armas e armaduras, mas como nem todas as pessoas tinham o acesso a tais adornos, por volta do século XVII os plebeus urbanos resolveram representar o dia dos meninos hasteando os  KOINOBORI como uma alternativa menos ostensiva já que basicamente as armaduras e os koi tem o mesmo significado para eles.

Em algumas famílias, mais tradicionais, as pessoas se adaptaram ao hasteamento do KOINOBORI mas também mantiveram a tradição de expor dentro de suas casas, miniaturas de bonecos de guerreiros com armadura, arma e capacete.
Em alguns lugares a paisagem fica tão bonita, alegre e colorida que viram pontos de visitação atraindo muitas famílias para fazerem piquenique e aproveitarem o último dia do feriado de "Golden Week".


Fonte:
www.culturajaponesa.com.br
Minha cabeça 
Meu filho
Minha amiga japonesa


quarta-feira, 4 de maio de 2016

Um pé em cada país.

Oia nóis aqui traveiz.



Pois é, meu povo e minha pova, voltei a morar na terra do Sol nascente. Terrinha calma (em termos), povo tranquilo, muito trabalho porém algumas facilidades, enfim, é isso aí, vamo que vamo e bola pra frente.

Como voltei a morar aqui no Japão, não sei por quanto tempo, vou aproveitar e escrever alguns post com curiosidades ou lugares para conhecer, ao menos os lugares aqui por perto de casa ou algum lugar que eu vá passear já que eu adoro passear, não gosto de ficar em casa, se eu tiver companhia eu caio na estrada com a mochilinha nas costas e vamu simbora.

Esse tempinho maravilhoso que passei no Brasil me fez perder toda e qualquer vontade de bater perna nos shopping por aqui, tudo muito certinho, bonitinho, arrumadinho, nada disso me faz lembrar minha terrinha amada. Tenho me sentido um pouco "presa" quando vou para lugares fechados, então não vai rolar post sobre shopping por enquanto.

Massssss em compensação.......

Gosto muito dos parques.....
Ahhhh esses sim merecem toda a minha consideração e amizade. Várias e várias fotos, vou precisar me controlar para não colocar fotos demais nas postagens, pois quem me conhece sabe, adoro fotografar coisas e nada melhor que arvores, flores e água, para eternizar nas fotografias.

Em 1 mês morando aqui meu celular já conta com 2.000 fotos.

Isso me fez falta no Brasil, sair para fotografar, qualquer coisa, paisagens, flores, rios, pessoas, selfies ( claro porque eu também mereço ter minhas recordações). Bom, mas o que foi, foi (alguém já me disse isso) agora vou só aproveitar minha estadia aqui e fotografar muitas coisinhas bonitinhas e fofinhas para postar no blog.

Gostaria de ter feito esse post de transição logo que cheguei aqui mas meu bloqueio mental não deixou, acabei postando alguns textos antes disso, mas antes tarde do que nunca né.

Tenho um coração verde e amarelo com muito orgulho e com muito amor.
Mas também sei ser grata ao país que me proporciona aprendizado e experiências incríveis, país esse que me deu a possibilidade de ver que se eu tivesse ficado com a bunda parada no mesmo lugar de sempre, na minha mesma cidade de sempre, reclamando das mesmas coisas de sempre, com meus medos de sempre, eu nunca teria tido nem metade das histórias que tenho pra contar. Aprendi a lidar e a conviver com as diferenças de sexo, raça, cor e religião. Conheci pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo.

Então....
Tenho um coração verde e amarelo com muito orgulho e muito amor mas, também tenho um coração branco e vermelho com muito orgulho (Sentiram a sutil diferença né, rsssss).

Bjnhs gentem, e até logo.

LIVRO DO DIA: O orfanato da Srta. Peregrine


Sabe aquele livro que quando você lê parece que faz parte dele, então é esse.

Sinopse
Tudo está à espera para ser descoberto em 'O orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares', um romance que tenta misturar ficção e fotografia. A história começa com uma tragédia familiar que lança Jacob, um rapaz de 16 anos, em uma jornada até uma ilha remota na costa do País de Gales, onde descobre as ruínas do Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares. Enquanto Jacob explora os quartos e corredores abandonados, fica claro que as crianças do orfanato são muito mais do que simplesmente peculiares. Elas podem ter sido perigosas e confinadas na ilha deserta por um bom motivo. E, de algum modo - por mais impossível que possa parecer - ainda podem estar vivas.

 
O livro desde o começo tem uma linguagem fácil, e flui muito bem, não tem nenhuma parte desinteressante, ele prendeu minha atenção à leitura, me vi passando por todas as situações e suspirei com as aventuras.

O livro é sobre jacob, um menino que passou sua vida escutando as histórias fantásticas que seu avô contava de uma época em que morava em um orfanato. Quando pequeno jacob sempre acreditou nessas histórias e fantasiou cada uma delas. Até que depois da trágica morte de seu avô, Jacob precisa passar por um tratamento psiquiátrico e deixa de acreditar nas histórias que ouviu e se convence que tudo não passou de uma invenção. Até que um dia ele encontra uma carta que foi destinada a seu avô há 15 anos atrás. Jacob então, agora com um endereço em mãos, decide que quer ir até o local tentar encontrar algo que o faça acreditar naquelas tão detalhadas e incríveis histórias. Seu pai, um ornitólogo, se propõe a acompanha-lo na viagem e aproveitar para escrever um novo livro.
Quando jacob chega a ilha somente com um endereço em mãos, descobre que talvez as histórias que seu avô contava possam ter um fundinho de verdade. Ele com um pouco de esforço e curiosidade acaba encontrando o orfanato que ele tanto procurava.
Depois disso coisas peculiares começam a acontecer e todo o brilho e fantasia tomam conta de toda a história.


Depois de ler o livro fiquei pensando, quantas e quantas vezes assistimos shows de talentos, pessoas mostrando seus "truques"  como levantadores de peso, engolidores de facas, levitação e mágicos. Será que são truques mesmo ou essas são pessoas peculiares que deveriam morar no orfanato da srta peregrine?


"Ela pegou minhas mãos e mirou-me nos olhos, e eu a encarei em resposta. Apenas olhar era quase tão intenso quanto os beijos."

sábado, 30 de abril de 2016

30/04/2016

No começo de 2007 me veio a repentina vontade de ter outro filho. Já tinha um menino de 4 anos, será que daria conta de mais um filho??? Parei de tomar remédio e em agosto 3 dias antes da minha menstruação vir tive a notícia, estava grávida. Foi uma mistura de felicidade e medo. Desde aquele exato momento eu sabia que tinha sido agraciada com minha tão sonhada princesinha.
A confirmação do médico veio em dezembro, mas nem precisava, eu tinha certeza. Meus dias azuis acabariam e agora eu teria dias rosas. Eu não teria apenas um protetor eu teria também uma companheira. Foram dias felizes ter aquela menininha crescendo dentro do meu útero, cada vez que ela se mexia dentro de mim meu sorriso se abria. Os dias foram passando e o dia de conhecer minha princesa pessoalmente havia chegado, não fiquei nervosa, muito menos ansiosa, eu me sentia plenamente feliz. 
A cirurgia me deixava preocupada mas eu sabia que tudo daria certo, e deu. As 10:51 vinha ao mundo a minha princesa, o presente que eu tanto pedi pra Deus. Nasceu com boa saúde, pesando 3.333 e 51 cm. Era ela, a minha doce e linda Kyara.
Apesar das noites mal dormidas, das dores nos seios, nas costas, no corte da cesaria, ter ela em meus braços era a maior das recompensas. Ela sorria pra mim, ela se alegrava em me ver e eu me derretia toda e quando menos percebi ela já fazia seu primeiro aniversário. Depois disso os dias voaram, eu piscava e já havia acabado o dia e assim chegou o seu segundo aniversário, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo e hoje o oitavo.
Olho para trás e passa um filme em minha mente.
Você brincando de pegar as coisas e levar a boca.
Você engatinhando, andando, os primeiros dias na creche, aiiiiiii isso doeu mais em mim do que em você, pode acreditar mas era necessário. 
Você nadando, correndo nas gincanas, andando de bicicleta e patinete.
Na sua formatura você estava tão linda, já tinha jeitinho de mocinha, nem parecia ter os 6 anos que tinha.
Foi aí que você enfrentou a primeira grande mudança na sua vida e que por sinal tirou de letra, eu sabia que conseguiria.
Eis então que chegou o dia de hoje, oito anos. Minha doce princesinha está fazendo oito anos.
Ela mesmo disse hoje pela manhã, enquanto estávamos na cama....
"- Nossa mãe, como os dias passam assim, voando, parece que foi ontem que fiz 7 anos."
Ela já começou a entender que a vida passa rápido e eu escutando isso percebo que passa mais rápido do que eu poderia imaginar.
Esses dias atrás ela era um bebê mamando em meus seios e hoje uma mocinha andando de skate.
Hoje é seu aniversário mas quem ganhou o presente, há oito anos, fui eu.
Nem sei o que te desejar nesse dia.
Dizer que te desejo saúde seria pouco;
Desejo que você nunca pegue nem resfriado.
Dizer que te desejo felicidades, seria pouco;
Desejo que você não saiba o que é a dor.
Dizer que te desejo sucesso, seria pouco.
Desejo que você alcance o céu.
Dizer que te amo, seria pouco;
Pois isso, só eu e Deus sabemos, só posso garantir, eu daria a minha vida por você.
Que Deus te abençoe, te guie, te guarde.
É tudo por você.
Te amo. 
お誕生日 おめでとう ございます。

sexta-feira, 29 de abril de 2016

1 月 に なる



"Existia uma rosa.
Uma linda rosa. 
Suas cores eram as mais vibrantes de todo o jardim.
Seu perfume era suave.
Suas pétalas eram sensíveis  e delicadas.
A rosa enchia os olhos de qualquer um que passasse por ela.
Um dia, veio uma nevasca e durante alguns dias a linda rosa ficou encoberta pela neve.
Quando a neve derreteu, pode-se ver que a linda rosa já não era mais como era antes. 
Ela estava sem pétalas, sem perfume e sem cor. Existia apenas o caule marrom e triste da linda rosa.
Com o passar dos dias e a dedicação de seu amigo jardineiro, a rosa aos poucos foi renascendo. 
Com um pouquinho de sol, água, amor e carinho, dia após dia a rosa foi retomando suas cores, suas pétalas e seu perfume. 
E depois de um tempo ela voltou a ser a linda rosa que era antes."

Assim são as pessoas, todas são lindas rosas, alegres e perfumadas até que apareça um problema e a faça murchar, mas dia após dia  e com a ajuda dos amigos, todos superamos os problemas e renascemos.
Não existe pessoa chata, triste, que só reclama da vida ou cheias de mimimi, existem pessoas tão preocupadas com elas mesmas que não conseguem perceber os pedidos de socorro.
A rosa poderia ter voltado a ser a "linda rosa" sozinha, mas com a ajuda do jardineiro ela teve confiança e forças para renascer mais rápido.

Quero agradecer a cada amigo jardineiro que Deus colocou no meu jardim. É maravilhoso saber que tenho vocês, que vocês não me abandonaram no momento em que a nevasca me atingiu, que seguraram minhas mãos e não me abandonaram quando precisei e se agora volto a exibir cores é porque tive vocês me regando dia após dia com dedicação, preocupação, carinho, respeito e amor. 
ども ありがとうごさいました。


sábado, 23 de abril de 2016

A culpa foi sua....[Enquanto todos dormem....]

Oi pessoal, é com imenso prazer que venho compartilhar com vocês mais um texto escrito em parceria com minha querida amiga corujinha, Maina Salén do blog GeoPoetizando, texto esse que me deu muito orgulho. Obrigada, querida amiga por mais essa parceria.
Então vamos lá.......




Era sábado à noite e eu estava me arrumando para sair com ele, estava tão feliz! Finalmente havia conhecido um rapaz tão carinhoso, educado, inteligente, às vezes um pouco ciumento, mas até acho normal possuir um pouco de ciúmes quando a gente gosta de alguém, também sinto um pouco de ciúmes dele, ele é tão lindo!
Eu havia comprado um vestido novo e iria usá-lo hoje, o vestido era um pouco acima dos joelhos, o calor estava castigando esse ano, e a tarde fui ao salão fazer as unhas. Hoje era nosso quinto encontro, em todas as vezes que saímos ele mostrou ser tudo aquilo que eu sempre sonhei em um homem, no fundo do meu coração eu tinha esperança que hoje ele me pedisse em namoro, então, queria está bonita para isso.
Tenho 20 anos e nunca tive muitos namorados, na verdade não tive nenhum namoro sério. Tenho alguns traumas quanto a isso. Quando eu era criança titia e sua família costumavam ir passar às férias lá em casa, quando ainda morávamos no interior da cidade, eram titia, titio e meus dois priminhos gêmeos. Numa dessas visitas, quando eu tinha seis anos, titio estava estranho, sempre me rodeando, querendo brincar comigo e me pegando no colo, não que das outras vezes ele não brincasse comigo, porém dessa vez ele estava muito mais empenhado, até que comecei a perceber que ele estava se aproveitando das brincadeiras para me tocar.
Quando me pegava no colo, passava a mão nas minhas perninhas magrelas e no meu bumbum, eu não entendia isso mas comecei a desconfiar que não era normal, até que em uma das brincadeiras ele me tocou na frente, entre minhas pernas e foi deslizando a mão para dentro da minha calcinha. Isso eu já entendia que não era normal, sai rápido do colo dele e fui correndo chorar no meu quarto, então, ele entendeu que eu sabia o que havia acontecido, se manteve distante até as férias acabarem e nunca mais voltou a passar férias naquela casa. Não contei nada a ninguém da família, guardei o segredo para mim, até porque eu só tinha seis anos e ninguém acreditaria, em seguida nos mudamos para a capital da cidade, mas cresci com essa lembrança e receio quando o assunto era namorados.
No entanto, com esse rapaz era diferente, ele me passava confiança, me mandando recados várias vezes ao dia querendo saber como eu estava, como tinha sido meu dia e falando sempre que queria me encontrar e que estava encantado comigo. Eu estava me apaixonando mais rápido do que gostaria, mas resolvi que já era hora de deixar meus medos para trás, eu era uma moça de 20 anos, estava na faculdade, tinha meu serviço, e continuava virgem, não que isso fosse um problema, mas eu gostaria de ter minha experimente sexual com todo carinho que eu merecia e sentia que seria com ele.
Conforme as horas foram passando mais empolgada eu ficava para encontrá-lo, combinamos que ele me buscaria às 23:00 horas, iríamos para alguma lanchonete encontrar com seus amigos e em seguida à um show de uma banda conhecida na cidade. Ás 22:30 eu estava devidamente pronta, coloquei o vestido novo e uma sandalinha não muito alta, arrumei meu cabelo e passei uma discreta maquiagem, eu não gostava de me exibir e nem gostava muito de sair de saia ou vestidos, porém com ele eu me sentia segura.
Então, às 23:00 em ponto ele chegou, meu coração já quase saia pela boca de tamanha ansiedade. Me despedi da minha mãe, que sorriu, e meu pai e sai. Assim que me viu, ele desceu do carro para abrir a porta e eu entrei, cada ação delicada e gentil que ele tinha comigo, fazia com que eu tivesse mais certeza que ele era o homem que eu queria.
Ele também entrou no carro e seguimos o nosso destino. Estava muito arrumado, calça escura e camisa clara, barba bem feita e muito perfumado. Começou a contar-me seu dia, que ele havia jogado bola à tarde com os amigos e como seu time ganhou o campeonato local, eles saíram para comemorar. Tomaram algumas cervejas, ele contava, percebi mesmo que estava um tanto quanto "alegrinho", mas nada demais.
Chegamos à lanchonete e vários dos seus amigos já estavam lá, dois casais e alguns rapazes solteiros. Eu estava feliz por ser apresentada aos seus amigos, isso fazia com que eu sentisse que estava ficando sério nossa relação. Dentro do carro percebi ele olhando para minhas pernas, será que ele estava me cobiçando?
Fiz amizade com as duas moças, namoradas dos amigos dele, elas eram legais e conversamos sobre vários assuntos enquanto os meninos, eufóricos, não paravam de falar sobre os jogos da tarde. Eles bebiam cerveja, eu não bebo nada com álcool e fiquei no suco de morango.
Lá por volta das 00:30 percebi que ele já estava bem alterado por causa do álcool, das outras vezes que saímos ele havia bebido tão pouco, não sabia que ele se empolgava tanto bebendo, fiquei um pouco triste mas levei em consideração a alegria do dia. Meia hora depois resolvemos ir embora, bom, como combinado nós iríamos ao show, então nos despedimos de todos os amigos dele e saímos, pois, o show seria numa casa noturna um pouco longe do centro da cidade.
No meio do caminho ele parou o carro debaixo de uma árvore. Se aproximou para me beijar e eu não resisti, gostava de sentir o toque de suas mãos em mim, os lábios dele nos meus, eram tão doces. Percebi, então, que os beijos começaram a ficar mais intensos, mais ansiosos, suas mãos começaram a percorrer meu corpo com mais avidez, comecei a ficar um pouco tensa, por mais que eu quisesse que minha primeira vez fosse com ele, não era ali dentro de um carro embaixo da árvore e pedi para ele parar.
Ele se afastou com uma certa raiva no olhar e ali sob a influência do álcool eu descobri quem aquele homem realmente era. Novamente veio para cima de mim, me agarrando e me beijando a força, empurrei-o com força e com lágrimas nos olhos e gritei:
- O que você está fazendo? Quem você pensa que é para me agarrar dessa forma e forçar a barra assim?
- Quem pensa o que? Você pensa que me engana? Se fazendo de boa moça, de legal, mas sai com esse vestidinho aí instigando os homens, meus amigos todos ficaram olhando paras suas pernas. – Ele respondeu.
- Mas as namoradas dos seus amigos também estavam de vestido, o que tem de mais? Meu vestido não está curto. – Eu rebati.
- As namoradas deles são problemas deles, aquelas putas também. Você com esse vestidinho curtinho aí só está querendo uma coisa e eu vou te dar agora.
Nesse momento ele avançou para cima de mim com uma mão apalpando meus seios e a outra abrindo o zíper da sua calça, eu tremia feito louca, desesperada não sabia o que fazer e meu único instinto foi abrir a porta do carro e desesperadamente pular para fora, e assim fiz, desci do carro e fechei a porta.
Ele abriu o vidro, olhou bem para minha face e disse:
- Fique aí sua puta. - Fechou a janela do carro, deu a partida e se foi.
Perdi o rumo e fiquei sem chão. No ímpeto de me livrar daquelas mãos imundas acabei esquecendo minha bolsa dentro do carro dele e meu celular estava lá. Logo, fiquei às 2:00 da madrugada num local sem movimento, sozinha e sem meu celular. Como não tinha mais o que fazer, respirei fundo e comecei a andar. Eu estava totalmente desnorteada, poxa eu já fazia tantos planos, nos via namorando, me via tendo a primeira vez com ele, como ele pode me chamar de puta? Como ele pode dizer que eu estava me insinuando para os amigos dele com meu vestido curto? O vestido não era curto, não era, e mesmo que fosse, poxa eu estava com ele e eu me arrumei para ele, para ele me achar bonita e ele me chama de puta.
Continuei andando, a fim de chegar em casa, onde é meu único refúgio. Fiquei distraída, minha cabeça tão cheia de pensamentos tristes, nem percebi que um homem andava atrás de mim. Eu estava chorando muito por tudo o que tinha acontecido. Então, esse desconhecido foi se aproximando cada vez mais, até que chegou perto o suficiente de mim e com um soco nas minhas costas me jogou no chão. Não, isso já era pesadelo demais para uma noite só.
Caí sem ter chances de me segurar em algo. Foi tudo numa fração de segundos. Tentei me levantar e o homem veio para cima de mim, puxou-me pelos cabelos, me deu um soco no rosto, fiquei atônita e nesse momento, aquele monstro me puxou para um terreno baldio que havia ali. Nada fazia sentido para mim, o que estava acontecendo?
Só sentia que estava lutando com alguém, que me puxava pelos cabelos e me arrastava, eu gritava, minhas costas arranhavam no chão, queimavam, era arrastada, gritava, me debatia, porém ninguém ouvia, era como se eu não estivesse fazendo nada. De repente, ele parou, tentei levantar, queria correr, porém ele me jogou no chão violentamente. Bati minha cabeça em algo, alguma pedra talvez, tudo começou a girar, esse homem rasgou meu vestido na parte de cima e ergueu a parte de baixo até minha cintura, e foi em seguida, que comecei a sentir a pior dor da minha vida.
Eu gritava, me debatia, tentava arranha-lo com minhas unhas, porém tudo era inútil. Esse ser, continuava ali, entre as minhas pernas, forçando, forçando, sentia o sangue escorrendo pelas minhas coxas, estava sendo rasgada. O movimento de vai e vem ficava cada vez mais intenso, mais violento, senti um gosto amargo na boca, um nojo que vinha de dentro para fora, queria vomitar. Chorava, tentei gritar novamente e ele cobriu meus lábios com uma das mãos para abafar o som, e com a outra mão me batia e apertava em todos os lugares do meu corpo que pudesse alcançar.
Meu corpo, não era mais meu corpo. Eu chorava, chorava muito, era inútil todas as minhas tentativas de defesa. Aquele homem me fitou e com um meio sorriso de satisfação parou de se mexer. Naquele ponto, eu já não mexia um músculo sequer, eles não me pertenciam mais. Notei um filete de sangue escorrendo pelos seus lábios, o meu sangue, que provavelmente ele conseguiu dos meus seios durante suas ferozes mordidas.
Eu chorava, era só o que me restava fazer. Ele saiu de cima de mim, se arrumou, virou as costas e foi embora, me deixando ali, jogada no chão, com a roupa rasgada, com minha face inchada, com meus seios latejando e as partes intimas sangrando. Eu me sentia resumida a nada, era menos que lixo, menos que nada, não era ninguém. Me arrumei para encontrar alguém que eu gostava, e esse alguém me deixou sozinha na rua, veio outra pessoa e me bateu, feriu e me violou. Eu não tinha forças para levantar do chão. Não sei quanto tempo fiquei ali, petrificada, ouvindo meus soluços engasgados entre as lágrimas. Doía muito, doía tudo, cada célula do que um dia chamei de meu corpo, sentindo muitas dores, mas a pior de todas era aquela dor que habitava em meu coração.
Aos poucos fui recobrando meus sentidos, me levantei devagar, tremendo, lutando para permanecer em pé. Tentei me recompor o máximo que pude e desnorteada, sem saber para onde estava indo, tentei voltar para minha casa. Comecei a andar, anestesiada, até que visualizei a rua da minha casa. Tinha algo estranho na calçada em frente à porta, era minha bolsa, aquele cafajeste tinha ido até onde eu morava só para deixar minha bolsa jogada ali no chão.
Peguei, abri a bolsa, com as mãos ainda trêmulas peguei as chaves, abri a porta e entrei. Todos dormiam, já eram 5:30 da manhã. Fui direto para o banheiro, quando olhei no espelho não reconheci a imagem à minha frente. Vi uma moça jovem, com os cabelos emaranhados, seu rosto que antes era bonito, agora encontra-se inchado e sujo, seus lábios cortados e inchados, com o sangue já seco na pele. Pele essa, que ardia por todos os poros, não era mais eu. Fui tirando a roupa lentamente, pois meu corpo todo doía, minhas pernas estavam cheias de hematomas, minhas costas arranhadas, meus seios mordidos, minhas mãos raladas, cortadas e os nós dos dedos roxos.
Entrei debaixo da água do chuveiro e chorei, copiosamente chorei. Sentei no chão do banheiro e continuei chorando. Num momento de nojo peguei a esponja e o sabonete e comecei a me esfregar com toda força que ainda me restava, me machuquei ainda mais, queria tirar toda sujeira daquele dia, sujeira que estava entranhada em mim, no meu corpo, na minha alma. Sentia ódio, ódio por ter nascido mulher, mulher não é nada no mundo dos homens. Homem pode beber, homem pode andar sem camisa, homem pode andar sozinho na rua a qualquer hora do dia ou da noite e uma mulher, no entanto, quando anda sozinha é atacada tão brutalmente.
Quando coloquei a mão entre as pernas senti dor, dor física, dor psicológica, minha alma doía. Desliguei o chuveiro, me troquei e fui para cama. Não queria que ninguém me visse naquela situação, nem mamãe e nem papai. Passei o domingo trancada no meu quarto e quando minha mãe me chamou para almoçar eu fingi que não escutei. Após o almoço, eu sabia que eles iriam para a casa de vovó e eu poderia ter algum tempo para pensar no que fazer.
Passei o dia anestesiada, na esperança de que a qualquer momento eu acordasse e tudo isso não tivesse passado de um pesadelo. Foi um pesadelo. Revivia as imagens na minha cabeça. Deixei uma bagunça na cozinha para que minha mãe achasse que eu havia comido algo, então, voltei para minha cama e dormi, dormindo eu parava de pensar. Assim, dormi até segunda de manhã. Escutei papai saindo para trabalhar, passaria a semana fora. Eu não poderia me esconder a semana toda de minha mãe, porém não fazia ideia de como contaria tudo isso para ela.
Lembrei que não havia olhado meu celular ainda, desde que resgatei minha bolsa na porta de casa. Peguei-o e haviam várias mensagens, porém apenas uma se destacou, apenas uma que meus olhos conseguiram enxergar. Era uma mensagem dele, onde havia apenas uma frase, não sei se ele viu o que me aconteceu depois que ele partiu com o carro, não sei se ele tentou voltar para me buscar, não sei mesmo, mas a única frase que havia escrito era: A culpa foi sua...
"A culpa foi sua..." Fiquei repetindo a frase em minha mente. "A culpa foi sua..." Não conseguia processar o que estava lendo. "A culpa foi sua..." Não acreditava naquilo que dizia o visor do meu celular. "A culpa foi sua..." Não, a culpa não foi minha, ou será que foi? Mas eu não pedi para ser violada. Eu fantasiava e romantizava uma primeira vez perfeita, cheia de toques e carinho, com o homem que eu amava. Não foi o que aconteceu.
Agora estou sozinha em casa, perdida, completamente perdida, não sei o que fazer, conto para minha mãe? Vou à delegacia prestar uma queixa? Não lembro o rosto do meu agressor, estava muito escuro, vi e não vi ao mesmo tempo, sou incapaz de descreve-lo, e a dor também embaça as memórias. Meu agressor, é meu, é algo que me pertence agora, não tenho namorado, não tenho um homem apaixonado por mim, não ganho flores e chocolate, não recebo uma carta de amor. Ao invés disso, eu tenho um agressor.
Que homem vai querer uma mulher que foi violada? Será que ele tinha alguma doença? Será que peguei? Será que posso engravidar? Como posso ter um filho de alguém que nunca vi, que não escolhi? Posso abortar? Mas então todos vão saber. Será que vão me entender ou vão me culpar? Será que Deus me perdoa por eu tirar a vida de um ser inocente?
A minha própria vida é tão insignificante, tão pequena, sou resumida ao nada, como vou cria-lo? Minha mãe não vai permitir o aborto, ela é muito religiosa. Aí meu Deus o que vou fazer? Devo abortar escondida? E se der errado? E não tenho dinheiro para isso. Ainda sou estudante e meu emprego paga pouco, aborto ilegal além de perigoso é caro.
Calma, preciso me acalmar. Não posso estar grávida, foi apenas essa vez, minha primeira vez, da pior forma possível. Fui violentada duplamente. Calma, preciso ficar calma. Estou aqui, em pé, no meio da sala, tentando decidir o melhor a ser feito. Apagar tudo é impossível. Preciso pensar antes da mamãe chegar em casa, ela vai exigir uma explicação quando se deparar com o que restou de mim. Minha mãe é muito nervosa, preciso ficar calma primeiro antes de contar para ela, é a única pessoa que pode me ajudar agora. Por isso, preciso ficar calma, ela já tem um histórico de depressão, precisa de medicamentos para dormir, tenho medo da reação quando ela souber tudo que passei.
É isso, finalmente uma ideia útil. Caminhei lentamente para o quarto dos meus pais, revirei nas gavetas até encontrar os medicamentos da mamãe. Vou tomar um comprimido, apenas um, para me acalmar, dormir pesadamente e assim, descansar. É o tempo que minha mãe volta para casa, então como estarei mais calma poderemos conversar com mais clareza sobre a situação e juntas decidir o que fazer. É isso!
Respirei fundo, retirei um comprimido da cartela. "A culpa foi sua..." Não consigo me livrar de tais palavras. "A culpa foi sua..." Engasguei sentindo o choro vir a garganta. "A culpa foi sua..." Quis gritar e fui incapaz, quis correr e fui incapaz, quis me defender e fui incapaz. "A culpa foi sua..." Minha roupa era muito sensual, eu estava pedindo. "A culpa foi sua..." As lágrimas escaparam de meus olhos, fazendo arder a pele quando tocou os machucados do meu rosto. "A culpa foi sua..."
Foi nesse momento que percebi, que mais de um comprimido, eu havia retirado todos das cartelas de medicamentos que estavam na gaveta. Minha mão cheia de marcas, segurava-os, fiquei imaginando seu sabor. Então, num impulso, coloquei todos na boca de uma só vez, não consegui engolir, minha garganta está seca, como se houvesse um nó no meio dela, o corpo quis cuspir. Eu, no entanto, cerrei os dentes e fui para a cozinha o mais depressa que pude, minhas pernas ainda estão com dificuldades para se locomoverem. Bebi um copo generoso de água, e assim, consegui engolir todos eles, todas as pílulas.
"A culpa foi sua..." Respirei profundamente. "A culpa foi sua..." caminhei lentamente para o meu quarto, deitei na cama. "A culpa foi sua..." Me cobri com o edredom quentinho que estava com o perfume floral do amaciante de roupas. "A culpa foi sua..." consegui sentir, finalmente, que havia voltado para casa. "A culpa foi sua..." Fitei o teto branco do meu quarto, tudo branco, sem noção alguma de quanto tempo se passou, de quanto tempo estou deitada na cama. O teto ficando cada vez mais branco, eu disse, como num sussurro, disse para que apenas eu mesma pudesse ouvir: A culpa não foi minha....
Fechei os olhos pela última vez, sabia que não acordaria mais.